terça-feira, 27 de março de 2012

A missão integral

Osmar Ludovico

A Teologia da Missão Integral foi articulada durante o Congresso Mundial de Evangelização realizado em Lausanne, na Suíça, em 1974. Chegou ao Brasil em 1983 por meio das principais palestras e publicações do Congresso Brasileiro de Evangelização.
Nesses últimos 30 anos vimos surgir entre nós uma Igreja de resultados com forte ênfase na mídia e de corte neopentecostal. A Igreja cresceu muito, mas sem muita consistência na reflexão teológica e na ética pessoal e social.

O que seria, então, a Missão Integral?
Deus criou o homem com uma tríplice natureza: corpo, alma e espírito. Na tradição hebraica e cristã esses três aspectos da natureza humana são absolutamente inseparáveis e interligados. Corpo, alma e espírito se interpenetram e formam uma unidade.
Muitas vezes usamos a expressão “salvar almas”.Trata-se de um equívoco, pois as Escrituras nos afirmam que todos ressuscitarão e a vida eterna será vivida no corpo. O corpo é tão importante que até mesmo Deus se esvaziou e assumiu a forma humana em Cristo Jesus.
Assim, a Igreja é chamada a proclamar o Evangelho a todo homem e ao homem todo, em todo lugar. É chamada a espalhar as boas novas da salvação, mas também trazer alívio ao que sofre e buscar para ele justiça e meios de uma vida digna.
Em Mateus 4.23-24 lemos: “Percorria Jesus toda a Galiléia ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou.” Jesus Cristo ministrou ao homem todo, na sua dimensão espiritual, mental e física. Ele não só pregava o Evangelho como também ensinava, isto é, explicava e expunha a Palavra. Ele também libertava da patologia espiritual as vítimas de possessão, (endemoninhados), curava os doentes mentais (lunáticos) e ainda os acometidos de enfermidades físicas (paralíticos).
Quando o homem e a mulher pecaram no Jardim do Éden, eles perderam a saúde espiritual, psíquica e física. Jesus Cristo vem para salvar e restaurar o homem em todas as dimensões, revertendo os efeitos da queda. Ele faz isso por meio da Sua encarnação, da Sua morte na cruz e da Sua ressurreição.
Assim, não se trata só de salvar almas, mas de salvar homens e mulheres na sua integralidade, seu ser completo. A missão de Cristo, cuja proclamação Ele confiou à Sua Igreja, é a de resgatar o homem todo.
Em Lucas 4.18 lemos: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres e enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos.” Aqui também Jesus Cristo, no início de Seu ministério, define Sua missão: evangelizar, libertar e curar. Os pobres são os destituídos de condições mínimas de subsistência. Os cativos são as vítimas de sistemas injustos e opressores e os cegos aqueles acometidos de enfermidades físicas.
Jesus Cristo multiplica pães para atender os famintos, cura os enfermos, expulsa demônios e anuncia a salvação. Seu ministério envolve a biologia, o psiquismo e espírito humano.
Somos chamados por Cristo a nos envolver com a humanidade minorando seu sofrimento por meio de ações humanitárias, promovendo o desenvolvimento, buscando a justiça. Em todas essas circunstâncias anunciamos o arrependimento e a fé em Cristo para a salvação eterna.
A Igreja certamente tem um papel fundamental no nosso país como instrumento de transformação, desenvolvimento e justiça, por uma evangelização acompanhada de ações sociais, educacionais e de cidadania, restaurando o homem brasileiro em todas as suas dimensões.
Outro lado dessa mesma questão é a afirmação das Escrituras de que a fé sem obras é morta. Somos chamados a crescer na vida espiritual, nas disciplinas da oração e leitura bíblica, a nos envolver com a missão de Cristo e a praticar boas obras de justiça. As boas obras que Deus espera que pratiquemos dizem respeito a ouvir o clamor dos que sofrem, ir ao encontro deles, levando alívio e esperança, e também buscando para eles justiça e dignidade.